ALIENAÇÃO - A.W.TOZER

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


AUTOR: JOSEMAR BESSA.

QUANDO SE ORA ERRADAMENTE.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010


    Algumas vezes ora-se não só em vão, mas também errado. Vejamos o exemplo: Israel fora derrotado em Ai, e ―Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças (Josué 7:6). De acordo com a nossa atual filosofia do reavivamento, isso era o que devia ser feito e, uma vez que isso se fizesse continuamente, é certo que convenceria a Deus e Ele acabaria concedendo aquela bênção. Mas, ―disse o Senhor a Josué: Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que eu lhes ordenara... Dispõe-te, santifica o povo, e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: ...aos vossos inimigos não podereis resistir enquanto não eliminardes do vosso meio as cousas condenadas".(Josué 7:10-13). 
     Precisamos de uma reforma dentro da Igreja. Pedir que um dilúvio de bênçãos caia sobre uma igreja desobediente e decaída é desperdiçar tempo e energias. Nova onda de interesse religioso apenas conseguirá adicionar números às igrejas que não tencionam submeter-se à soberania de Jesus e nem buscam obedecer aos mandamentos dEle. Deus não está interessado tanto em aumentar a freqüência às igrejas, mas em fazer com que tais pessoas emendem seus caminhos e comecem a viver santamente. Certa vez o Senhor pela boca do profeta Isaías disse palavras que aclaram este assunto de uma vez por todas: 

"De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiro, e da gordura de animais cevados, e não me agrado do sangue dos novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. 
Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? 
Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as luas novas, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene... Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos: cessai de fazer o mal. 
Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas... 
Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra." 
(Isaías 1:11-17,19.) 

    Os rogos, pedindo reavivamento, só serão ouvidos quando acompanhados de uma radical emenda ou reforma de vida; nunca antes. Reuniões de oração que atravessam a noite mas não são precedidas de verdadeiro arrependimento só podem desagradar a Deus. ―O obedecer é melhor do que o sacrificar. (1 Samuel 15:22.) Urge voltarmos ao cristianismo do Novo Testamento, não apenas no que respeita ao credo mas também na maneira completa de viver. Separação, obediência, humildade, naturalidade, seriedade, autodomínio, modéstia, longanimidade: tudo isso precisa ser novamente parte vivificante do conceito total do cristianismo e aparecer no viver cotidiano. Precisamos purificar o templo, tirando de dentro dele os mercenários e os cambiadores, e ficarmos outra vez inteiramente sob a autoridade do Senhor ressurreto. E isto que aqui agora dizemos aplica-se a quem escreve estas linhas, bem como a cada um dos que invocam o nome de Jesus. Daí, sim, poderemos orar em plena confiança, e aguardar o verdadeiro reavivamento que certo virá.


A.W.TOZER  
TEXTO EXTRAIDO DO LIVRO  "O CAMINHO DO PODER ESPIRITUAL" EDITORA MUNDO CRISTÃO

Deus Deve Ser Amado por Ele Mesmo

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

       
       Sendo Deus o que Ele é, precisamos buscá-lo por Ele mesmo e jamais como um meio para obter uma outra coisa. Quem quer que busque outros objetos e não Deus está sozinho; é possível que venha a conseguir tais objetos, mas jamais terá a Deus. Deus nunca é encontrado acidentalmente. "Buscar-me-eis, e me achareis. quando me buscardes de todo o vosso coração" (Jr 29:13). 

       Quem quer que busque a Deus como um meio para atingir um fim desejado, não encontrará Deus. O Deus poderoso, o criador dos céus e da terra. não será um dentre muitos tesouros, nem sequer e maior deles. Ele será tudo em todos ou nada será. Deus não se deixa manipular. Sua misericórdia e graça são infinitas e sua compreensão paciente é incomensurável. mas não ajudará os homens em seu es­forço egoísta para obter ganhos pessoais. Não auxiliará os homens a atingir fins que. uma vez alcançados, usurpem o lugar que por direito lhe pertence no seu interesse e afeição,

O cristianismo popular, entretanto, dá a sua maior ênfase à idéia de que Deus existe para ajudar as pessoas a progredirem neste mundo. O Deus dos pobres tornou-se o Deus de uma sociedade afluente. Cristo não mais se recusa a ser juiz ou divisor entre irmãos gananciosos. Ele pode ser agora persuadido a ajudar o irmão que o aceitou a aproveitar-se do irmão que o rejeitou.

Um exemplo crasso do esforço moderno para manipular Deus, favorecendo propósitos egoístas, é a história do conhecido comediante que depois de repetidos fracassos, prometeu a alguém que chamava de Deus que se o ajudasse a ter sucesso no mundo do palco ele o recompensaria contribuindo generosamente para o cuidado das crianças enfermas. Pouco depois teve êxito em várias casas noturnas e na televisão. Ele cumpriu a sua palavra e está levantando grandes somas em dinheiro para construir hospitais infantis. Essas contri­buições para a caridade, em sua opinião, são um preço bem pequeno a pagar pelo sucesso em um dos campos mais difíceis do empreen­dimento humano.

É possível desculpar a atitude desse artista como algo a ser esperado de um pagão do século vinte; mas que multidões de evan­gélicos na América do Norte acreditassem realmente que Deus tivesse algo a ver com o acontecido não pode ser tão facilmente posto de lado. Esta visão diminuída e falsa da divindade é uma das principais razões da imensa popularidade gozada por Deus hoje em dia entre os bem nutridos ocidentais.

O ensino bíblico é que Deus é Ele mesmo o fim para o qual o homem foi criado. "Quem mais lenho eu no céu?" clamou o salmista, "Não há outro em quem eu me compraza na terra" (SI 73:25). O primeiro e maior mandamento é amar a Deus com todas as fibras de nosso ser. Onde existe um amor assim, não pode haver lugar para um segundo objeto. Se amarmos a Deus quanto devemos, não pode­mos certamente sequer imaginar um objeto a ser amado além dEle, que possa ajudar-nos a obter.

Bernard de Clairvaux inicia seu pequeno e brilhante tratado sobre o amor de Deus com uma pergunta e uma resposta. A pergunta: por que devemos amar a Deus? A resposta: porque Ele é Deus. Ele desenvolve ainda mais a idéia, mas para o coração esclarecido pouco mais precisa ser dito. Devemos amar a Deus porque Ele é Deus, Além disto os anjos não podem pensar.

Sendo quem é, Deus deve ser amado por Ele mesmo. Ele é a razão para que o amemos, da mesma forma que é a razão de seu amor por nós e para todos os outros atos por Ele realizados, os que irá realizar e está realizando, perpetuamente. O principal motivo de Deus para tudo é o seu próprio prazer. A busca de razões secundárias é gratuita e perfeitamente inútil. Ela supre os teólogos de uma ocupa­ção e acrescenta páginas aos livros de doutrina, mas é duvidoso que apresente quaisquer explicações válidas.

Está, porém, na natureza de Deus o partilhar. Seus poderosos atos de criação e redenção foram feitos para o seu próprio prazer, mas o seu prazer se estende a todas as coisas criadas. Basta olhar para uma criança sadia brincando ou ouvir o canto de ura pássaro no fim da tarde e saberemos que Deus quis que seu universo fosse cheio de alegria.

Os que foram espiritualmente capacitados a amar a Deus por Ele mesmo, irão descobrir milhares de fontes brotando do trono cercado de arco-íris, e ofertando tesouros incontáveis que devem ser recebidos com gratidão reverente como sendo o transbordar do amor de Deus por seus filhos. Cada dom é um presente da graça que, por não ter sido buscado egoisticamente, pode ser gozado sem prejuízo para a alma. Neles se incluem as bênçãos simples da vida, tais como a saúde, o lar, a família, amigos congeniais, alimento, abrigo, as alegrias puras da natureza ou os prazeres mais artificiais da música e da arte.

O esforço de encontrar esses tesouros, buscando-os diretamente, em separado de Deus, tem sido a principal atividade humana no correr dos séculos; e este tem sido o fardo e o mal do homem. O esforço de obtê-los como o motivo oculto por trás da aceitação de Cristo pode ser algo novo sob o sol; mas novo ou velho é um mal que só pode terminar em condenação.
 
Deus quer que nós o amemos por Ele mesmo sem quaisquer razões  ocultas,  confiando  nEle  para   que   seja   tudo  o  que   nossa. naturezas requerem.  Nosso  Senhor disse isto muito bem:   "Busca pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas"  (Mt 6:33).
A.W.TOZER

 TEXTO EXTRAIDO DO LIVRO: O MELHOR A.W.TOZER ED.MUNDO CRISTÃO


Três Feridas Leais

quarta-feira, 24 de novembro de 2010


Permitam apresentar-lhes uma pequena dama, falecida há perto de seiscentos anos. Ela vivia,amava,orava e cantava na cidade de Norwich, na Inglaterra. Esta humilde mulher não tinha muita luz nem como consegui-la, mas o que é belo a seu respeito é que , com a escassa luz que tinha, ela andava com Deus, e tão maravilhosamente junto dele que se tornou fragrante como uma flor. E muito tempo antes da Reforma, era em espírito uma genuína evangélica. Ela viveu e morreu, e agora já faz quase seiscentos anos que está com o seu Senhor, mas deixou atrás a sua fragrância de Cristo.

A Inglaterra era um lugar melhor porque esta humilde senhora vivia. Ela escreveu somente um livro, um livro minúsculo, que se pode levar no bolso ou na bolsa, mas tão saborosamente substancioso, tão divinamente inspirador, tão celestial, que constitui distinguida contribuição à grandiosa literatura espiritual do mundo. A dama a quem me refiro é a Senhora Juliana.

Antes de espocar nesta radiosa e gloriosa vida que a fez famosa como grande cristã em toda sua região, ela fez uma oração, atendida por Deus. É nesta oração que se concentra o meu interesse nesta noite. Eis a essência da oração: “Ó Deus, dá-me, por favor, três feridas: a ferida da contrição, a ferida da compaixão e a ferida da aspiração por Deus.” Depois ela acrescentou um post-scriptum que acho que é uma das coisas mais lindas que já li: “Isto peço sem condição”. Ela não estava fazendo barganha com Deus. Queria três coisas, e todas as três para a glória de Deus: “Peço isto sem condição, ó Pai; faze o que peço e, depois, manda-me a conta, seja qual for o preço estará bem para mim.”

Todos os grandes cristãos foram almas feridas. É estranho o que uma ferida faz com o homem. Eis o soldado que parte para o campo de batalha. Ele vai cheio de pilhérias, energia e segurança própria; então um dia, uma raja de metralhadora o atinge, e ele cai – um homem batido, derrotado, choramingão. Num repente, todo o seu mundo sofre colapso à sua volta. E este homem, em vez do sujeito grandioso, forte e valente que pensava ser, subitamente se vê o menino chorão de outrora. É o que sempre se soube, me dizem clamarem os combatentes por suas mães quando ficam sangrando e sofrendo no campo de batalha. Não há nada como uma ferida para tirar-nos a auto-segurança, para reduzir-nos outra vez à infância, e tornar-nos pequeninos e incapazes à nossa própria vista.

Ousemos inclinar agora os nossos corações e dizer: ”Pai, tenho sido um cristão irresponsável e infantil – mas interessado em ser feliz do que santo. Ó Deus, dá-me três feridas. Fere-me com o senso da minha pecaminosidade. Fere-me com compaixão pelo mundo, e fere-me com amor por Ti que me mantenha sempre buscando, sempre sondando, sempre procurando e sempre achando.”
Se você ousar fazer essa oração com sinceridade e expressá-la diante de Deus, poderá ser este um ponto decisivo em sua vida. Poderá significar a abertura de uma porta de vitoria para você.
Permita Deus que assim seja. A.W.Tozer.

Trechos extraídos do texto “Três Feridas Leais.”
Livro: Homem: Habitação de Deus – Como a natureza divina entra no coração do Homem – Editora Mundo Cristão.

CADA GERAÇÃO DE CRISTÃOS DEVE EXAMINAR AS SUAS CRENÇAS

sexta-feira, 19 de novembro de 2010


A palavra doutrina significa simplesmente crenças sustentadas e ensinadas. A sacra tarefa de todos os cristãos, primariamente como crentes e secundariamente como mestres de crenças religiosas, consiste em assegurar-se de que estas crenças correspondem exatamente à verdade. Uma precisa harmonia entre as crenças e os fatos constitui a legitimidade da doutrina. Não podemos permitir-nos menos que isso.

Os apóstolos não somente ensinavam a verdade, mas também pelejavam por sua pureza contra toda e qualquer pessoa que a corrompesse. As epístolas paulinas resistem a todos os esforços dos falsos mestres para introduzirem excentricidades doutrinárias. As epístolas de João apresentam contundente condenação dos mestres que importunavam a novel igreja negando a encarnação e lançando dúvidas sobre a doutrina da Trindade; e Judas, em sua breve mas poderosa epístola, sobe às culminâncias da m ais ardente eloqüência quando despeja desprezo sobre os maus mestres que querem desviar os
santos.

Cada geração de cristãos deve examinar as suas crenças. Se bem que a verdade mesma é imutável, as mentes dos homens são vasos porosos dos quais a verdade pode escoar-se e nas quais o erro pode infiltrar-se, diluindo a verdade que contêm. O coração humano é herético por natureza, e corre para o erro com a mesma naturalidade com que um jardim vira mato. Tudo que um homem, uma igreja ou uma denominação
precisa, para garantir a deterioração da doutrina, é tomar tudo como líquido e certo, e não fazer nada. O jardim negligenciado logo será dominado pelas ervas daninhas; o coração que deixa de cultivar a verdade e de arrancar o erro, em pouco tempo será um deserto teológico; a igreja ou denominação que cresce descuidada no caminho da verdade, não demorará a ver-se perdida e atolada em alguma baixada lodosa da qual não há como fugir. 
A.W.TOZER

TRECHO EXTRAIDO DO TEXTO "A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA CERTA"; DO LIVRO HOMEM: HABITAÇÃO DE DEUS - EDITORA MUNDO CRISTÃO.


A COMUNHÃO DOS SANTOS

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

 
Creio na comunhão dos santos”
 - Credo Apostólico -
 
            Essas palavras foram escritas no Credo aproximadamente em meados do século quinto.

Seria difícil – se não totalmente impossível – para nós nesta era presente saber exatamente o que se passava na mente dos Pais da Igreja que introduziram essas palavras ao Credo.

Contudo, no livro de Atos, temos uma descrição da primeira comunhão cristã: “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (2:41-42).
            Eis aqui a comunhão apostólica original, o modelo sobre o qual a comunhão de todo cristão verdadeiro deve ser alicerçada.

            O termo “comunhão”, apesar de seus abusos, ainda é belo e pleno de significado. Quando corretamente compreendido, significa o mesmo que a palavra “confraternidade”, ou seja, o ato e a condição de compartilhar em união algumas bênçãos comuns a um número de pessoas. A comunhão dos santos, nesse caso, significa um compartilhamento intimo e amoroso de certas bênçãos espirituais por pessoas que estão na mesma condição diante da bênção que compartilham. Essa comunhão deve incluir todos os membros da Igreja de Deus, do Pentecostes até o momento presente, e continuar até o fim dos séculos.

Ora, antes de haver comunhão, é necessário que haja união. De certo modo, todos aqueles que compartilham estão acima da organização, nacionalidade, raça ou denominação. Essa unidade é algo divino, realizado pelo Espírito Santo no ato da regeneração. Qualquer homem que nasce de Deus é um com outro que nasce de Deus. Assim como o ouro sempre é ouro, independente do lugar ou da forma em que é encontrado, e todo fragmento separado do ouro pertence à verdadeira família e é composto pelos mesmos elementos, toda alma regenerada pertence à comunidade cristã universal e à comunhão dos santos.

Toda alma redimida nasce da mesma vida espiritual que todas as outras almas redimidas e participa da natureza divina exatamente do mesmo modo. Portanto, cada uma torna-se membro da comunidade cristã e participante de tudo o que essa comunidade desfruta. Essa é a verdadeira comunhão dos santos. Contudo, apenas saber isso não é suficiente. Se avançamos no poder dessa verdade, devemos nos exercitar nessa verdade; devemos praticar em nossos pensamentos e orações a idéia de que somos membros do Corpo de Cristo e irmãos de todos os santos resgatados, que vivem e que morreram, que creram em Cristo e O reconheceram como Senhor.

Afirmamos que a comunhão dos santos é uma confraternidade, um compartilhar de coisas concedidas por Deus por parte de pessoas que foram chamadas por Deus. Ora, quais são essas coisas?

A primeira e mais importante é a vida – “a vida de Deus na alma do homem”. Essa vida é a base de tudo que se recebe e compartilha. E essa vida não é outra coisa senão o próprio Deus. Deveria ser evidente que nenhum verdadeiro partilhar cristão de bênçãos pode existir a menos que, primeiro, a vida seja concedida. Uma organização e um nome não constituem uma igreja. Cem pessoas religiosas unidas por uma cuidadosa organização não constituem uma igreja mais do que onze homens mortos formam um time de futebol. O primeiro requisito sempre será a vida.

A comunhão apostólica também é uma comunhão de verdade. A inclusividade da comunhão sempre deve ser sustentada por seu exclusivismo. A verdade traz para seu gracioso circulo todos aqueles que admitem e aceitam a bíblia como a fonte de toda a verdade e o Filho de Deus como o Salvador dos homens. Entretanto, não deve haver um compromisso vulnerável com os fatos nem palavras sentimentais expressas em frases antigas: “Todos nós seguimos na mesma direção (...) Cada um está buscando sua própria forma de agradar ao Pai e fazer com que o céu seja o seu lar.” A verdade liberta os homens, e unirá e separará, abrirá ou fechará, incluirá e excluirá de acordo com sua excelente vontade sem respeitar as pessoas. Rejeitar ou negar a verdade da Palavra é excluir-se a si mesmo da comunhão apostólica.

Ora, alguém pode perguntar: “O que é esta verdade sobre a qual você fala? É meu destino confiar na verdade dos batistas, na verdade dos presbiterianos ou na verdade dos anglicanos, ou em todas essas verdades ou em nenhuma delas? Para conhecer a comunhão dos santos é preciso crer no calvinismo ou no arminianismo? Na forma congregacional ou na forma episcopal do regime eclesiástico? É preciso interpretar as profecias de acordo com os pré-milenaristas ou pós-milenaristas? É preciso crer no batismo por imersão ou por aspersão?” A resposta a todas essas perguntas é fácil. A confusão é apenas aparente, e não real.

Os primeiros cristãos, sob o fogo da perseguição, levados de um lugar para outro, ás vezes recusavam a oportunidade de obter uma instrução meticulosa da fé, queriam uma “regra” que resumisse tudo o que deviam crer para garantir seu bem-estar na eternidade. Em virtude dessa necessidade crucial, surgiram os credos. Dentre os muitos, o Credo Apostólico é o mais conhecido e apreciado, e foi reverentemente repetido pelo maior número de cristãos ao longo dos séculos. E, para milhares de homens de boa vontade, esse credo contém os princípios essenciais da verdade – não todas as verdades, naturalmente, mas a essência de toda a verdade. Servia, em tempos de provação, como uma espécie de senha que instantaneamente unia os homens entre si, quando esse credo era transmitido boca a boca pelos seguidores do Cordeiro. É justo, portanto, afirmar que a verdade compartilhada por santos na comunhão apostólica é a mesma verdade salientada por conveniência no Credo Apostólico.

Nesta época, quando a verdade do Cristianismo está sob um fogo perigoso vindo de muitas direções, é mais importante que saibamos no que cremos e que o preservemos com cuidado. No entanto, na tentativa de interpretar e explicar as  Santas Escrituras de acordo com a fé antiga de todos os cristãos, devemos nos lembrar que uma alma sequiosa pode encontrar salvação mediante o sangue de Cristo ao mesmo tempo em que mostra pouco conhecimento sobre os ensinamentos mais completos da teologia cristã. Portanto, devemos aceitar em nossa comunhão toda ovelha que ouviu a voz do Pastor e esforçou-se por segui-Lo.

O novo convertido à fé cristã, que ainda não teve tempo de aprender muitas coisas sobre a verdade cristã, e o cristão desprivilegiado, que teve a desventura de crescer em um grupo onde a palavra foi negligenciada do púlpito, estão quase que na mesma situação. A fé deles compreende apenas uma pequena parte da verdade, e seu “compartilhar” está necessariamente limitado à pequena parte compreendida. O importante, entretanto, é que o pouco que desfrutam consiste na verdade real. Talvez não ultrapasse a idéia de que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”; mas, se andarem à luz dessa grande verdade, não será necessária outra coisa para trazê-los ao circulo dos abençoados e para serem constituídos verdadeiros membros da comunhão apostólica.

Consequentemente, a verdadeira comunhão cristã consiste no compartilhar de uma presença. Não se trata de uma simples poesia, mas de um fato ensinado em letras garrafais no Novo Testamento. Deus deu-se a si mesmo a nós na pessoa de seu filho. “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20). A imanência de Deus em Seu universo possibilita o gozo da “verdadeira presença” tanto por parte dos santos de Deus no céu como na terra. Independente de onde eles possam estar, Deus se faz presente para eles na plenitude de Sua divindade.

Não creio que a bíblia ensine a possibilidade de comunicação entre os santos na terra e aqueles que estão no céu. Mas, apesar de não haver comunicação, o mais certo é que há comunhão. A morte não arranca o crente individual de seu lugar no Corpo de Cristo. Assim como em nosso corpo físico cada membro é nutrido pelo mesmo sangue que, ao mesmo tempo, dá vida e unidade ao organismo como um todo, no Corpo de Cristo, o Espírito vivificador que flui por todas as partes dá vida e unidade ao todo. Nossos irmãos em Cristo que se foram da nossa presença ainda preservam seu lugar na comunhão universal. A Igreja é uma, quer acordada ou dormindo, por uma unidade de vida eterna.

A coisa mais importante sobre a doutrina da comunhão dos santos são os efeitos práticos na vida dos cristãos. Sabemos pouco sobre os santos que estão no céu, mas, quanto aos santos que estão na terra, sabemos – ou podemos saber – muitas coisas. Nós, protestantes, não cremos (uma vez que a bíblia não ensina) que os santos que foram para o céu antes de nós são, de alguma forma, afetados pelas orações ou obras dos santos que permanecem na terra. Nossa atenção particular não está voltada para aqueles a quem Deus já exaltou com a visão beatífica, mas para os peregrinos sobrecarregados e esforçados que ainda estão peregrinando rumo à Cidade de Deus. Todos nós somos parte uns dos outros; o bem estar espiritual de cada um de nós é – ou deve ser – a terna preocupação dos demais.

Devemos orar por um alargamento de alma de modo que aceitemos em nosso coração todo o povo de Deus, independente de sua raça, cor ou denominação. Consequentemente, devemos pôr em prática a idéia de que somos membros da família abençoada de Deus e nos empenhar na oração para que amemos e apreciemos todos aqueles que nascem do Pai.

Eles pertencem a nós – todos eles -, e nós pertencemos a eles. Eles a nós e todos os homens e mulheres redimidos, independente de época ou região, estamos incluídos na universal comunhão de Cristo, e juntos formamos “um sacerdócio real, uma nação santa, um povo de propriedade exclusiva” (I Pe 2:9) que desfruta a comum, mas abençoada, comunhão dos santos.

A. W. Tozer